Quais a histórias que o rio Jacaré Pepira tem para contar?
O rio Jacaré Pepira é uma testemunha silenciosa da nossa evolução ao longo dos anos. As fotos reunidas nesta exposição retratam as conexões profundas que a comunidade de Brotas sempre teve com esse recurso natural, agora duramente ameaçado pela crise climática e pelo seu uso desregulado.
Esta exposição é também um apelo para que, ao revivermos estas memórias, possamos refletir sobre quais mudanças estamos dispostos a fazer em nosso estilo de vida para garantir ao Jacaré — e a todos os rios — o direito de existir limpos, plenos e vivos.
FICHA TÉCNICA
Direção: Vivian da Cunha
Produção: Aline Tambasco
Digitalização e edição das fotos: Gregory Fenile
Historiador: José Vitor Carignato David
Imagens: Arquivo Histórico Municipal de Brotas, Camila Lazari, Luiz Edson Negrão e Tadeu Fessel
Realização: Diretoria de Cultura da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Brotas através da lei Paulo Gustavo, Lei Complementar n° 195, de 2022.
Apoio: Alaya
CONTEXTO HISTÓRICO
O município de Brotas tem uma rica história, que por vezes se confunde com a história do Brasil: Dona Francisca Ribeiro dos Reis, descendente de portugueses, fundou a cidade após construir um pouso para tropeiros em 1837 às margens do rio Jacaré Pepira. Em seguida construiu a Capela de Santa Cruz, dedicada a Nossa Senhora das Dores de Brotas, padroeira de um povoado homônimo em Portugal.
Entre estas histórias e mitos fundacionais, não podemos mais deixar de mencionar: a terra que hoje se constitui a cidade de Brotas (assim como o vasto território brasileiro) foi tomada a força das comunidades indígenas que aqui viviam: Guaranis, Caiuás, Xavantes e Caingangues ocupavam este território há muitos anos, e para que o povoamento, a estalagem e a igreja de Dona Francisca pudessem se instalar aqui, foi necessário à desocupação forçada destes povos originários. A presença destes povos é comprovada pelo sítio arqueológico Gramado, localizado em nossa cidade, estudado deste 1994 pela Universidade de São Paulo (USP) e, entre outras, pelo nome do nosso rio: Jacaré Pepira, termo tupi-guarani.
O rio Jacaré foi essencial em todas as fases da nossa história: sustentou as ocupações indígenas, matou a sede dos tropeiros, permitiu a vitalidade do café e da cana e recentemente nos presenteou com o turismo. Moldou e ainda molda a identidade brotense. Há séculos é nossa paisagem comum, fonte de memórias e afeto.
Contudo, com o crescimento e as demandas múltiplas de uso de suas águas, o rio corre risco crescente. Urge uma melhor relação com o Jacaŕe-Pepira e uma tomada de consciência definitiva de que se não cuidarmos o rio não resistirá. Que este projeto seja um acelerador desta nova e melhor relação.
José Vitor Carignato David
“Eu teria milhões de coisas pra falar sobre essas fotos, esse lugar é esse delicioso tempo das nossas vidas nesse lugar, mas não tenho tempo nem disposição pra fazê-lo do jeito que gostaria. As fotos foram quase todas feitas por mim, entre 1959 e 1961. Quase todas no “Salto”. Lugar que hoje chamam de “Parque do Salto”. Numa das Fotos, estão Maurício Galhardo, Antônio Carlos Carvalho, o Carlão. José Zucchi e Flávio Mateus, alguns dos meus amigos daquele tempo. Em uma outra, saltando juntos estão, A. Carlos Carvalho, o “Carlão” que é quem melhor saltava naquele lugar comum. Liberdade e domínio do corpo no ar. Espetacular. E Pedro Pinto Lima, o “Pedrinho”. Saltando só, todas do Carlão.”
Luiz Edson Negrão
Fotografia de Luiz Edson Negrão — Acervo pessoal Luiz Edson Negrão.
Os rios que encontro vão seguindo comigo…
J. Cabral de Melo Neto
Fotografia de Luiz Edson Negrão — Acervo pessoal Luiz Edson Negrão.
Fotografia de Luiz Edson Negrão — Acervo pessoal Luiz Edson Negrão.
Fotografia de Luiz Edson Negrão — Acervo pessoal de Luiz Edson Negrão.
Inicialmente atendida por lampiões a querosene, a cidade passou a receber eletricidade através da Usina de Brotas, construída pelos cafeicultores Pedro Saturnino de Oliveira, Ângelo Piva, Mário de Barros e Idílio Marques. Esta usina começou a gerar energia em 12 de novembro de 1911, inaugurando a iluminação elétrica na cidade.
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Muito mais que um rio, o Jacaré Pepira sempre proporcionou aos brotenses uma profunda integração com a natureza, uma comunhão com seu espaço vital. Na década de 1940, nasceu o Clube de Natação Santa Cruz.
Fotografia de Guilherme Trombini — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotografia de Guilherme Trombini — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotografia de Guilherme Trombini — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
“Brotas que enche os olhos de quem te admira
De cachoeiras ou de Jacaré Pepira
Nas tuas trilhas me aventuro tão menino
Ainda me encanto, me espanto e me fascino.”Daniel e Rick, Hino Municipal de Brotas.
Fotografia de Guilherme Trombini — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
O rio Jacaré Pepira, há milhões de anos escavando seu leito e modelando o planalto, desde o início do povoamento esteve presente na vida dos brotenses dando-lhes peixes, molhando suas roupas nas brincadeiras entre amigos, encantando olhares com suas quedas d’água.
Adriana Ramos et al.
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Fotógrafo desconhecido — Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Brotas-SP
Em 1992, diante da ameaça de um curtume que poluiria o Rio Jacaré Pepira, um grupo de jovens fundou a ONG Movimento Rio Vivo e lançou uma publicação que catalogava as cachoeiras, trilhas e corredeiras de Brotas. No mesmo ano, foram criados a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a primeira agência de turismo receptivo, a Mata`Dentro, posicionando a cidade como o primeiro destino brasileiro estruturado para turismo de aventura e natureza. Esse movimento impulsionou uma nova atividade econômica, hoje essencial para a geração de renda e preservação do meio ambiente.
Fotografia de Tadeu Fessel — Acervo da Alaya
Fotografia de Tadeu Fessel — Acervo da Alaya
Fotogradia de Angelo Roberto Lázari Junior “Janjão” — Acervo pessoal de Angelo Roberto Lázari Junior “Janjão”
Fotogradia de Angelo Roberto Lázari Junior “Janjão” — Acervo pessoal de Angelo Roberto Lázari Junior “Janjão”
Fotografia de Tadeu Fessel — Acervo da Alaya
REFERÊNCIAS
CAMILLO, José Daniel; CARVALHO, Geraldo Antônio de. O Hino Municipal de Brotas. Composto por José Daniel Camillo e Geraldo Antônio de Carvalho. Instituído como hino oficial do município pela Lei Municipal nº 2.262, de 27 de dezembro de 2008. Brotas, 2008.
OLIVEIRA, Flávia Arlanch Martins de. Tempos dos caminhos e descaminhos de uma cidade do interior paulista: Brotas 1839-1920 / Flávia Arlanch Martins de Oliveira – 1.ed. – Curitiba: Brazil Publishing, 2019.
RAMOS, Adriana; BUSSAB, Leila; SOUZA, Mônica de; et al. Brotas: cotidiano & história. 1. ed. Brotas: Prefeitura Municipal de Brotas, 1996.
SALLUM, Marianne. Estudo do gesto em material cerâmico do sítio Gramado – município de Brotas, São Paulo. 2011. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.