O Rio Jacaré Pepira, com seus 174 quilômetros de extensão, é o rio que cruza a cidade de Brotas, interior de São Paulo. Este rio nasce na Serra de Itaqueri, numa altura de 960 metros acima do nível do mar, e deságua no Rio Tietê, à 400 m do nível do mar, na divisa das cidades de Itajú e Ibitinga, e por isso é considerado um dos afluentes do Tietê. Esta junção dos afluentes com um rio principal se chama Bacia Hidrográfica. Quando lidamos apenas com o Rio Jacaré Pepira, não falamos em bacia hidrográfica, e sim em sub-bacia (por se tratar de uma área de drenagem de escala menor).

A Sub-Bacia do Rio Jacaré-Pepira e afluentes diretos do Rio Tietê tem uma área de 2.670,28 km², sendo 22,6% da área de gestão da UGRHI 13. Para descomplicar: UGRHI significa “Unidade Hidrográfica de Gerenciamento de Recursos Hídricos”, que é um método de divisão de áreas geográficas onde existem bacias e sub-bacias. Dentro de uma UGRHI pode haver várias sub-bacias, depende de como o governo e as câmaras técnicas avaliam a Unidade.

Foto: Marcel Leite

Foto: Ricardo Japur

O Rio Jacaré Pepira tem  uma função essencial para Brotas. Ele é usado para o abastecimento urbano (com os córregos da Minhoca e das Águas Claras), para a realização de atividades turísticas (rafting, bóia cross, canoagem, caiaque, entre outras atividades de aventura), para a irrigação de lavouras e abastecimento da área rural, e também para os usos da usina açucareira da cidade. Fizemos um painel mais descritivo sobre os usos da água, você pode ter acesso aos dados de usos clicando na palavra destacada.

Além destas funções, o Rio Jacaré Pepira é de enorme importância quando falamos da proteção da biodiversidade. As árvores que estão em suas margens dão abrigo e alimentação para uma vasta diversidade de animais. Encontramos quatis, macacos-prego, tatus, teius, calangos, e diversas serpentes próximas às áreas de rio (Cascavel, jararaca, falsas-corais, entre outras). Do mesmo jeito, na cidade já foram catalogadas 316 espécies de pássaros, com muitas delas dependendo necessariamente do rio e das árvores ao seu redor por conta da sua dieta alimentar. As espécies de sanã, por exemplo, vivem escondidas entre as folhas que caem das árvores em áreas mais densas de vegetação. Algumas outras, como a saracura-três-potes, o maçarico-solitário, o tapicuru e a curicaca são espécies que necessitam necessariamente do rio, pois além das frutinhas que comem, sua dieta se baseia muito nos pequenos insetos e crustáceos que ficam nas águas.

Imagem: Gregory Fenile

Desde 1980 o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) realiza medições no rio, onde sua vazão de lá pra cá já variou de 2,2m³/s até 29,42m³/s . Mais uma vez, para simplificar: vazão é a quantidade de água que o rio transporta em determinado período de tempo, logo nos meses de estiagem a vazão será menor pois chove menos, e nos meses de estação chuvosa a vazão será maior. A questão da vazão do rio já foi muito discutida. Segue um trecho retirado do Relatório de Situação de Recursos Hídricos 2020 – UGRHI 13 – Bacia Hidrográfica Tietê Jacaré:

Embora a disponibilidade de águas superficiais seja considerada boa na sub-bacia do Rio Jacaré Pepira, já existe uma situação crítica na região central da sub-bacia, especificamente em Brotas. O conflito pelo uso da água nesse rio foi pauta de reuniões em 2018. O COMDEMA de Brotas solicitou que fosse avaliada a concessão de outorga para fins de irrigação no trecho de rafting, alegando que essa captação prejudicaria a prática do rafting, atividade que alegam ser de extrema importância econômica para o município. Ficou acordado que as partes interessadas, Secretaria de Turismo de Brotas, COMTUR elaborassem um estudo contendo dados socioeconômicos e hidráulicos, especificando o nível mínimo para operação da atividade e qual a vazão necessária para isso. Esse estudo deveria ser aprovado pela Plenária do comitê, que analisaria a possibilidade de sugerir ao CORHI a mudança da ordem de prioridade na bacia e uma nova % da vazão de referência para esse curso d’água, uma vez que, de acordo com as normas vigentes, não há motivos para impedir a concessão da outorga no local. Até o presente momento as interessadas não se manifestaram a respeito da elaboração desse documento.”

Diante disto, o Instituto Astral também se propôs a realizar uma ação para que a questão do rio não fosse esquecida. Em 2020, no período eleitoral, o IA criou um abaixo assinado, onde exigia 10 medidas a serem exigidas para o legislativo e executivo municipal em relação ao Rio Jacaré Pepira. Ao todo, mais de 11 mil pessoas assinaram o documento, dentre elas, muitos candidatos se comprometendo a realizar as medidas. Você também pode acessar o documento clicando no termo grifado, onde você encontra as medidas bem descritas.

Imagem: Gregory Fenile

Entende-se que a largura do rio muda conforme tem mais ou menos água, e também conforme o relevo se altera. Portanto, temos larguras pequeninas quando estamos próximos à sua nascente inicial, mas conforme descemos, a largura pode variar de 10 à 32 metros. Isso também depende da estação hídrica.

Outras variações que vemos, é a variação de biomas. Brotas é considerada uma área de ecótono, ou seja, uma área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado. Por isso, vemos alguns campos mais abertos e com árvores mais secas e tortuosas, do mesmo jeito que vemos matas mais densas com árvores enormes e com muitos frutos (geralmente mais próximos ao rio, a umidade acaba gerando este efeito). O interessante desta transição é que ela ajuda e muito a recarga do aquífero, e acaba que um bioma influencia diretamente no outro. De um lado, temos o cerrado, com as árvores mais secas e tortas, porém com raízes extremamente profundas e distantes, que ajudam com que a água se infiltre no solo quando a chuva cai, o que abastece os níveis d’água no subsolo. Do outro lado temos a mata atlântica, que por algumas vezes é nomeada de “floresta semidecidual estacional”, que vemos sua predominância especialmente próximas às regiões onde passam rios, córregos, cachoeiras, e onde surgem as nascentes. Então é muito fácil de se entender que retirando as áreas de cerrado, que são as áreas de recarga com maior eficiência, acabamos tendo aos poucos uma diminuição das águas e logo da mata mais densa que a cerca.

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Anotações:

  • Correspondências:
    • Distância Instituto à Igreja de Santa Cruz = 335 m. Distância da Nascente à Foz do Rio = 519 vezes dessa distância;
    • Uma torneira aberta tem vazão média de 15,6 Litros/Minutos. O Rio tem vazão de até de 29,42 Metros³/Segundo. Vazão do rio = 113.145 torneiras abertas ao mesmo tempo, quando está na quando está no seu ápice.
  • Os dados da Mata Ciliar preservada, não temos. Temos a porcentagem de vegetação natural remanescente, que é apenas 9,42% segundo o Relatório de Situação de Recursos Hídricos da Bacia Tietê-Jacaré.
  • O principal afluente do Rio Jacaré é o Ribeirão dos Pinheirinhos. Nele existem várias cachoeiras, que servem de atrativo turístico. Também é ele o maior ribeirão da cidade, com capacidade de abastecer centenas de propriedades rurais.

Texto Original: Ruan Vinicius Smaniotto de Souza – Ecólogo, Instituto Astral.

Palavras Chave: Biodiversidade, Rio, Mata Ciliar, Cerrado, Mata Atlântica, Vegetação, Água, Rio Jacaré Pepira, Aquífero.

Fonte: 

RELATÓRIO DE SITUAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 2020 – Ano base 2019

Águas de Brotas – Mapeamento Hídrico

Portal do Departamento de Águas e Energia Elétrica – Rede Hidrológica Básica do Estado de São Paulo – Fluviometria – Departamento de Águas e Energia Elétrica

Abaixo-assinado · SALVE O RIO JACARÉ PEPIRA ! · Change.org – Instituto Astral 

Reportagem Uol –  NATUREZA EM PRIMEIRO LUGAR “Turismo de Brotas aprendeu que sustentabilidade de seu negócio depende da preservação do meio ambiente”

Espécies de Pássaros em Brotas – Wiki Aves

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